Hoje, 31/10/2023, comemoramos os 506 anos da Reforma Protestante, evento este que culminou na divisão da igreja entre católicos e protestantes. É importante falarmos um pouco sobre isso pois, muitos dos que se dizem cristãos protestantes (ou evangélicos), não conhecem a história, somente ouviram falar de um carinha chamado Lutero que se rebelou contra os abusos e heresias da igreja católica medieval. Mas como isso aconteceu? Qual a razão para Lutero se rebelar contra a igreja? Quais as lições desse movimento para os dias atuais? Vejamos a seguir.
No século 16, a igreja havia se distanciado das escrituras, onde ao invés de ensinar sobre a justificação pela fé, disseminava a salvação pelas obras e a sua liderança estava envolvida em corrupção aliada ao estado, causando muita insatisfação. Muito antes dessa época, alguns tentaram protestar contra o sistema, mas não obtiveram sucesso. É o caso de John Wycliffe (1328-1384) e John Huss (1369-1415) (Recomendo muito que pesquisem sobre esses pré-reformadores). Ocorre que, em uma jogada política, a igreja começou a implantar um esquema especial de venda de indulgências, com o intuito de arrecadar fundos para as obras da Basílica de São Pedro. As cartas de indulgências eram vendidas e as pessoas podiam comprar a salvação pessoal, o perdão dos pecados e até resolver o problema de pessoas que já haviam morrido e estavam no "purgatório".
É nesse cenário que surge Martinho Lutero, um monge agostiniano nascido na Saxônia, que ao meditar nas escrituras e se aprofundar nas doutrinas paulinas, se depara com as palavras: "Porque no Evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: O Justo viverá pela fé." (Romanos 1:17), gerando um confronto a tudo o que estava sendo ensinado pela igreja. Então, em 31 de outubro de 1517, Lutero se dirige à capela de Wittenberg e prega em sua porta, um documento que continha 95 teses que questionavam a interpretação da igreja no que diz respeito às indulgências, penitências e a salvação pela fé. Essa época coincidiu com o surgimento da imprensa, o que facilitou a propagação das 95 teses, causando uma extrema tensão entre a igreja e os fiéis. É importante frisar que Martinho Lutero não tinha intenção de dividir a igreja e sim convidar os teólogos a um debate e reflexão. Ele queria propor uma reforma de dentro para fora, chamando a igreja ao arrependimento e à volta às escrituras. A liderança da igreja não admitiu o protesto de Lutero, nem aceitou o convite ao debate e começou a perseguí-lo.
Dieta de Worms
Em 1521, ocorreu a Dieta de Worms, que foi uma assembleia imperial convocada pelo imperador Carlos V, na cidade de Worms, para que Lutero negasse tudo o que havia escrito, pois as 95 teses haviam gerado muitos problemas para o Papa de Roma. A assembleia era formada por um tribunal eclesiástico e poderes civis, poderia inclusive gerar uma condenação para ele, como herege. Conforme conta a história, no decorrer do tribunal, Lutero então proferiu suas famosas palavras:
"A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por uma clara razão (pois não confio no papa, nem apenas em concílios, visto que é bem sabido que eles têm errado frequentemente e se contradizem), estou preso às Escrituras que tenho citado e minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Não posso negar, e não negarei nada, pois não é seguro nem direito ir contra a consciência. Não posso fazer de outro modo. Que Deus me ajude! Amém."
Como resultado, o imperador condenou Lutero como herege e pronunciou sobre ele uma pena de morte.
Lutero foi salvo da prisão e da morte pelo príncipe da Saxônia. Enquanto isso, uma revolta contra Roma espalhou-se em várias cidades, sacerdotes e concílios municipais removeram estátuas das igrejas e abandonaram as missas, fortalecendo assim o movimento que ficou conhecido como a Reforma Protestante.
Posteriormente, os reformadores sintetizaram os pilares da Reforma Protestante, que são conhecidos como os "5 Solas":
Sola Scriptura (Somente a Escritura) - Significa que somente a escritura é suficiente. Ou seja, somente a palavra de Deus pode ser utilizada como regra de fé e prática pela igreja, contrapondo por exemplo a autoridade papal, que para os católicos se equipara às escrituras;
Solus Christus (Somente Cristo) - Significa que somente Cristo é o único mediador entre Deus e os homens, contrapondo por exemplo, que Maria e os "santos" também são mediadores;
Sola Gratia (Somente a Graça) - Significa que a salvação é somente pela graça e não por méritos humanos, contrapondo por exemplo, as indulgências daquela época e as "promessas e rituais" que são feitos por interesse de receber algo em troca;
Sola Fide (Somente a Fé) - Significa que a justificação é somente pela fé em Cristo e isso não é um dom que vem de nós, é um dom de Deus. Não é por aquilo que podemos fazer;
Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória) - Significa que toda Glória existente pertence a Deus, que o propósito único da criação de todas as coisas e da salvação do homem é a Glória de Deus.
O que podemos aprender com Martinho Lutero e a Reforma Protestante?
Primeiro, que devemos ter a coragem e ousadia de Lutero quando defendemos aquilo que cremos. Se dizemos crer em Jesus e na sua palavra, temos que estar a cada dia meditando e nos enraizando nela, assim como Pedro e os apóstolos, quando questionados e ao enfrentarem oposição, disseram: "Mais importa obedecer a Deus do que aos homens..." (Atos 5:29);
Segundo, que assim como Lutero, não entremos em discussões com a intenção de acharmos que estamos sempre certos (Lutero estava disposto a voltar atrás de qualquer posição se houvesse algum argumento sólido que o refutasse), mas que debatamos com o intuito de glorificar a Deus e de estarmos cada vez mais próximos da Sua palavra;
E terceiro... Você pode estar pensando: "Hoje tenho visto igrejas seguindo o mesmo caminho (ou até pior) das igrejas católicas medievais. Eu preciso concordar com você. Muitos estão trilhando caminhos cada vez mais distantes da escritura, pois, devido à nossa condição humana pecaminosa, temos a tendência de nos afastarmos, algumas vezes até sem perceber. A pergunta que sempre fica é: É preciso uma nova reforma? Eu respondo com a frase do teólogo reformado holandês Gilbertus Voet: "Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est”, ou seja: "Igreja Reformada, sempre se reformando...". Mantenhamos sempre a nossa consciência e nossa mente cativas às Escrituras e nos voltemos sempre ao verdadeiro evangelho, a saber, o evangelho da Cruz.
Soli Deo Gloria!
0 comentários:
Postar um comentário