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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A ANSIEDADE E A VIDA

 
Em nossos dias, vivemos em uma sociedade influenciada por uma cultura, que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han define como a "sociedade do desempenho", onde "estabelece modos de vida que se expressam por um excesso ou tirania da positividade, produzindo sujeitos que devem buscar sempre superar-se com relação aos seus ganhos. Com isso, são engendradas subjetividades e sociabilidades agenciadas pela multitarefa e constante (auto)produção." ¹ Diante desse cenário, vemos as pessoas o tempo todo se movimentando, com ideais que os levam à busca da superação em relação ao outro e que para serem os melhores, precisam estar constantemente correndo, visando o seu desempenho e produtividade. Dedicam as suas vidas a cada vez mais apresentar resultados, no que ele chama de "violência neuronal", gerando pessoas extremamente cansadas, ansiosas e doenças como depressão, transtornos dos mais variados tipos, burnout, etc.
As dúvidas que ficam são: Como a humanidade chegou a esse ponto? Porque a ansiedade e seus derivados dominam a nossa mente? Como viver longe dessa influência danosa da visão pós-moderna?

Pois bem, gostaria de responder a essas perguntas com as escrituras sagradas, partindo da carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses:

"Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez. Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus." Filipenses 4:6-7.

Quero destacar algumas lições preciosas desse texto:

1- Não vivam preocupados com coisa alguma.
Você pode me dizer que é muito fácil falar, que é impossível não se preocupar, não ficar ansioso com alguma coisa. De fato, todos nascemos com a ansiedade dentro de nós e é impossível fugir dela. Ao aguardar por algo, por exemplo, é natural ficarmos ansiosos até aquele momento chegar. Ao presentearmos alguém, esperamos para ver a reação de quem presenteamos, ao recebermos um presente, ficamos curiosos para saber o que ganhamos, ao fazer uma prova, queremos saber qual nota tiramos, etc. Até aí tudo bem, isso é perfeitamente normal, faz parte da nossa natureza. O problema é quando essa ânsia por algo, se torna aquilo na qual colocamos a nossa esperança, aquilo que começa a dominar os nossos pensamentos e ações. E é sobre esse tipo de ansiedade que Paulo fala aqui. 
A ansiedade pode ser descrita como "a reação prolongada de um organismo a qualquer possível ameaça futura." ², ou seja, a ansiedade está ligada geralmente mais a uma expectativa de perigo do que algo real. São muitas vezes, conclusões de algo que ainda não aconteceu ou o medo excessivo do que pode acontecer. A cultura pós-moderna tem gerado expectativas nas pessoas que as têm frustrado constantemente. Temos concentrado nossos esforços em busca de superação e realização na vida, nos colocando como donos de nosso próprio destino, quando nem mesmo conseguimos acrescentar ao menos uma hora à nossa vida (Mt 6:27). Temos colecionado os ídolos do sucesso, da prosperidade material e do orgulho em nosso coração, para cada vez mais tentar satisfazer o nosso ego. "Trabalhamos em coisas que não gostamos, fazemos dietas que detestamos. Realizamos todo tipo de coisas, não pelo prazer de realizá-las, mas apenas para construir um currículo que impressione. Quando nos comparamos com os outros e tentamos nos sobressair, estamos nos vangloriando. Com isso, tentamos ser os melhores e desenvolver um currículo que aumente nossa autoestima, uma vez que estamos desesperados por compensar nosso sentimento de impotência e vazio." ³. Estamos cansados, sobrecarregados, ansiosos, depressivos, doentes... 
Mas, diante de tudo isso, como mudar esse quadro? Paulo pede para que os Filipenses tenham o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude (Fp 2:2). Ele pede para que eles estejam sempre alegres no Senhor e que a amabilidade deles seja conhecida por todos (Fp 4:4-5). Mas como isso é possível? Nos voltando para o Único que pode preencher esse vazio que tentamos ocupar com as coisas desse mundo: Deus.

2- Orem a Deus pedindo aquilo de que precisam.
Muitas vezes andamos angustiados e queremos a qualquer custo alcançar a paz em nosso coração por diversos meios, porém, percebemos que quanto mais buscamos do nosso jeito, mais distante ficamos dela, pelo motivo de que não estamos no controle de nenhuma situação adversa que enfrentamos. Queremos ficar bem, mas não oramos. E quando oramos, não recebemos o que pedimos porque pedimos pelos motivos errados, simplesmente pensando em nosso prazer (Tg 4:3). O Senhor Jesus, no sermão do monte, nos ensina a orar corretamente. Em primeiro lugar, devemos santificar o nome de Deus, pedir para que a Sua vontade seja feita (Mt 6:9-10) e depois apresentarmos as nossas súplicas. Percebe a diferença? O mundo nos empurra para cada vez mais confiarmos em nós mesmos, porque somos "capazes" de conduzir e controlar as nossas próprias vidas e quando a realidade mostra que não é bem assim, nós caímos e ficamos sem rumo. Somos chamados a confiar no Pai, que detém todo o poder e a natureza de Sua vontade é boa, agradável e perfeita (Rm 12:2). Devemos orar a Deus, não porque Ele precisa de nossas orações, mas porque precisamos inteiramente Dele e só Ele pode acalmar o nosso coração ansioso.

3- Agradecendo por tudo o que ele já fez.
Um coração grato é o anticorpo para a ansiedade. Ao orarmos a Deus e apresentarmos os nossos pedidos, devemos sempre nos lembrar de tudo o que Ele já fez em nossas vidas. Não somente isso, mas agradecê-lo por estar sempre conosco. Quando estamos preocupados, a tendência é nos esquecermos disso e entregarmos nossos pensamentos a somente o que está ruim, a olharmos somente para os nossos problemas. Me lembro de uma canção de Sérgio Lopes: "Tente lembrar se alguma vez Jesus te abandonou, tente lembrar quantas vezes Ele já te levantou..." ou uma outra canção do Projeto Sola que diz assim: "Quando o coração estiver aflito, se lembre do que Ele fez, tudo que criou e sustenta pelo poder da Sua mão...". Quando somos gratos, recalibramos o nosso coração, sabendo que o Senhor está conosco, nunca nos abandonou e que tudo sustenta pelo poder de Sua mão.
4- Então vocês experimentarão a paz de Deus.
A paz que tanto procuramos, não está em nós, não está no que podemos ter ou fazer. Fracassamos por procurar a paz em seres finitos ao invés daquilo que é eterno. Em coisas imperfeitas ao invés daquele que é Perfeito. Eis aí o antídoto para as preocupações desta vida: Que nossas petições sejam em tudo apresentadas diante de Deus, através das orações e que nos voltemos a Ele constantemente com ações de graças. Só assim, a verdadeira paz, na qual nenhum ser vivo pode ser capaz de compreender, nos alcançará, guardando o nosso coração (Tudo aquilo que sentimos) e a nossa mente (Tudo aquilo que pensamos) em Cristo Jesus, que nos diz: 
“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma." (Mt 11:28-29).

Talvez você que chegou até aqui, possa estar em um estado avançado, onde a sua ansiedade se tornou patológica a ponto de te levar à depressão ou algum tipo de transtorno e você luta contra ela todos os dias. Eu quero te dizer umas palavras: Inicie ou continue o tratamento adequado, seja através da psicoterapia ou psiquiatria. Creia que Deus é o Criador de toda medicina e ciência, e que nos beneficiou com meios naturais para tratar de nossas enfermidades também. Ore ao Senhor, seja sempre grato e "lance sobre Ele toda a ansiedade, porque Ele tem cuidado de você!" (1 Pedro 5:7).

Que a Paz do Senhor esteja com cada um de nós!


¹Byung-Chul Han. Sociedade do Cansaço. Editora Vozes.
²Bibotalk. Nova Mentalidade - Conversas em torno da carta de Paulo aos Filipenses. Mundo Cristão, Pág. 108.
³Timothy Keller. Ego Transformado. Vida Nova, Pág. 22.

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